terça-feira, outubro 16, 2007

O freio puxado




Sick of being sick. A melancolia sofrida hipócrita é crônica, e aqui fica. Eu tenho um estoque de sorrisos, e eles gastam. O estoque de boa-vontade também. Não consigo ser sempre boazinha. Meus lixos saem pelos poros. Não gosto quando me atribuem lixos que não saíram de mim. Já tenho os meus, deixa comigo! Sinto que gasto minhas energias na minha vida de mentira, e as reservas acabam quando minha vida de verdade chega. Vou comprar uma canoa e aprender a remar. Virar fotógrafa de golfinhos em Superagüi. Amarrar Comandos em Ação em sacolas de mercado e jogar de cima do prédio. Pintar as paredes de baton vermelho. Plantar hortências na calçada de cimento. Qualquer coisa que seja inusitada e me traga de volta a vida, abasteça o combustível, essa mesma mesma coisa cansa! Vou injetar ópium das minhas veias. Estou precisando dançar!

segunda-feira, outubro 15, 2007

Amoras

Sempre surgem por lá, as amoras.
O outro ano, aquele que passa, reserva os mesmos meses que este, este que é presente, e sempre o mesmo mês, me traz as amoras.
Elas faziam o meu caminho, me faziam desviar do reto, me propunham grandes subidas, ruas sem saída, trilhos de trem, sempre sendo presenteada com elas, pretinhas, dedos azuis, suculentas. Cada árvore encontrada, um sorriso de canto de boca, uma grande exclamação por todo o cérebro, tentativas, as vezes frustradas, de carregar as frutinhas para casa, para que alguém pudesse também sentir o gosto roxo na boca, sorrir com os dentes escuros e a língua doce.
O tempo passa, a cabeça endurece, o coração envelhece, mas as amoras ainda nascem, faz parte do ciclo, chegou o mês em que elas têm uma obrigação, a de crescerem e satisfazerem quem fizer delas seu caminho.
Estar perto de deus me deixa longe da vida. A testa franzida, o olhar para baixo, o passo apertado, a pasta na mão, o telefone tocando, me tiram de mim mesma. As amoras estão todas lá, mas meu caminho, agora é outro.
Houve um dia em que uma das frutas se jogou na minha frente. O gosto roxo ficou amargo pelos dentes recém escovados. Castigo. Faça delas seu caminho, mas não pense que elas virão tão facilmente para você.
As amoras fazem par com o coração, com o sorriso sem motivo, com a cabeça leve. Não mais me permito. Troco minha vida por deus. Minha felicidade está pelos caminhos com subidas, curvas e trilhos de trem, do ano passado.
 
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